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quarta-feira, 2 de abril de 2014

ARTIGO DE CARLOS CASTELLO BRANCO, NO JORNAL DO BRASIL DE 02 DE ABRIL DE 1.964




Goulart mobiliza Brasília para luta
Brasília
O Sr. João Goulart não renunciou à Presidência da República, não se considera ainda vencido pela rebelião dos comandos militares e continua a manter a mobilização moral e material de Brasília, através de uma cadeia de rádios locais, para a resistência e a luta.

O Congresso Nacional, por sua vez, não se julgou em condições de adotar uma decisão política, não deliberou e nem sequer se reuniu ontem à noite, preferindo que o desenrolar dos acontecimentos facilite eventualmente uma solução.

A Capital da República vive horas de intensa apreensão, com o recrutamento de voluntários que se exercitam desde o começo da tarde em algumas ruas da cidade e as reiteradas declarações do Comandante Militar, General Fico, de que a guarnição federal permanece fiel ao Sr. João Goulart.

Na cadeia de rádios controlada pelo Governo Federal, as principais autoridades continuam a fazer exortações ao povo. Entre essas autoridades que se dirigiram à população figurou o Arcebispo de Brasília, Dom José Newton, o qual, sem se afirmar solidário politicamente com o Chefe do Govêrno, enumerou dados reveladores da miséria do povo e indicativos da necessidade de profundas reformas.

Os Deputados e Senadores, que conversaram com o Presidente da República, na Granja do Torto, onde se recolheu desde que, depois de uma rápida visita ao Palácio do Planalto, chegou a Brasília, estão extremamente discretos com relação ao comportamento do Govêrno, mas todos traduzem a disposição geral de resistência.
O fato de ter o Sr. Leonel Brizola conseguido dominar a Capital do Rio Grande do Sul e de estar mobilizando militarmente, deu alma nova aos partidários do Sr. João Goulart, que durante certo momento, na tarde de ontem, tiveram a sensação de um colapso geral do sistema de segurança do Governo.

O Sr. João Goulart, segundo versões, aguarda a reunião na Capital dos seus Ministros para se deslocar até Porto Alegre, pois um poderoso Coroando da Varig o aguarda no aeroporto desde as 15 horas. Essa aeronave, que veio de Cumbica, ao que se presumia inicialmente para levar o Presidente e sua família para o exterior, continua estacionada no aeroporto de Brasília.

Há indícios de que o Chefe do Govêrno confia ainda em que uma forte resistência surgirá não só a partir do Rio Grande como nas próprias cidades conquistadas pela rebelião militar. Essa resistência teria por base seja a arregimentação de trabalhadores para a greve geral e a sabotagem, seja a articulação de graduados das Forças Armadas contra os comandos triunfantes.

Alude-se igualmente nas esferas oficiais ao fato de que a Força Aérea Brasileira, com seu poderio intato, estaria ao lado do Presidente da República e apta a entrar em ação, se for convocada.

Entre os dirigentes oposicionistas, declarava-se ser esperada a resistência de dois regimentos da Capital gaúcha, um deles motomecanizado. A vitória do Sr. Brizola estaria, portanto, dentro das previsões e poderia retardar o desfecho por alguns dias.

Na alta direção udenista não se fazia segredo de que o plano conspiratório, desencadeado na segunda-feira, foi longamente preparado, inicialmente numa faixa defensiva e, a partir do comício do dia 13, na Central do Brasil, em caráter agressivo. Houve consulta e infiltração em todo o dispositivo militar e o piano foi cuidadosamente elaborado para uma rebelião progressiva e avassaladora. No esquema figurava o propósito de permitir ao Sr. João Goulart tomar sua decisão final por conta própria. Não parecia estar nos planos, porém, o deslocamento do Presidente para Brasília e sua disposição de resistir, que é a situação que se configura neste momento.

O Congresso vem oscilando, desde que cessaram as comunicações com o Rio de Janeiro, às 20 horas de terça feira, entre a confiança, o susto, a euforia e o pânico. Nas últimas horas de ontem a expectativa de que os Deputados e Senadores pudessem se encontrar face a problemas de segurança, como a deflagração de manifestações populares armadas, voltava a se impor ante a rápida contaminação da mobilização governamental comandada pelo Sr. Darci Ribeiro.

Não se acredita que a posição militar de Brasília ofereça condições para uma resistência longa, mas poderia ser um cenário dramático para a sustentação dos acontecimentos que se desenrolariam no sul e poderiam atingir outras áreas.
Carlos Castello Branco
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Jornal do Brasil 02/04/1964

02 de Abril de 1.964 - RANIERI MAZZILLI assume a Presidência



Para institucionalizar o contragolpe, o Senador Auro Soares de Moura Andrade convoca uma sessão extraordinária no Congresso Nacional.

Às 02:55h, Auro Soares de Moura Andrade, Presidente do Congresso, declarou Presidente da República, o deputado Ranieri Mazzilli.



Darcy Ribeiro, Chefe do Gabinete Civil, encaminha uma notificação de que Jango não tinha abandonado o país e, portanto, não abandonara o cargo de Presidente da República.




Andrade ignora a informação e declara vaga a Presidência da República.

Ouça:

https://www.youtube.com/watch?v=B-3Ng_eaG2I


A sessão no Congresso Nacional começou às 02:40h, visando tratar da vacância na Presidência, após a leitura de ofício da Casa Civil dizendo que João Goulart se dirigia para o RS e, em pleno exercício de seu mandato, encontrava-se à frente de tropas militares.

Após tomar ciência da ausência de Jango, o Congresso designou Mazzilli, Presidente da Câmara, seu sucessor.

No Rio de Janeiro, na madrugada, o General Arthur da Costa e Silva assumiu como Comandante-Chefe do Exército.



Às 03h do dia 02 de Abril de 1.964, Ranieri Mazzilli, Presidente da Câmara, Auro Soares de Moura Andrade, Presidente do Senado e Ribeiro Costa, Presidente do STF, seguem para o Palácio do Planalto.




Dezenas de parlamentares entram no Palácio sem resistência dos seguranças, que não sabem o que está acontecendo.



No terceiro andar, no Gabinete da Presidência, Ranieri Mazzilli é empossado Presidente da República, interino.